segunda-feira, 13 de setembro de 2010

À QUEIMA DE CALCINHAS

Há décadas mulheres saíram às ruas e queimaram sutiãs em praças públicas por seus direitos, exigindo da sociedade o respeito e o fim do machismo. Este ainda existe, no entanto, houve inúmeras melhoras das mulheres na sociedade.




E hoje as mulheres ainda lutam. Ainda recebemos menos, trabalhamos mais e ainda somos tratadas como algo comestível. É verdade que ainda apanhamos em casa, morremos por homicídios passionais e carregamos nos ventre filhos de pais irresponsáveis. É verdade o machismo ainda reina e que ainda somos vítimas de um meio social que olha para nós como indignas da igualdade. Mas houve melhoras e a fumaça dos sutiãs queimados serviu como incenso aos deuses para acalmar seus rancores e maldições contra nossas almas e feminilidades.



A queima dos sutiãs já faz tempo e fez história. Isso foi lá no século XX, sendo algo quase centenário e distante de nós, habitantes desse século XXI aberto para nossas possibilidades. Tivemos vitórias em nossa história. Ganhamos o poder de desejar engravidar ou não, de divorciar, de alcançar profissões e nos espalharmos em tantos e inúmeros locais onde nenhuma saia era bem-vinda. O poder dos homens diminuiu pela novas formas que as famílias estão hoje se construindo. Houve mudanças; houve melhoras; e hoje podemos sorrir um pouco mais do que nossas avós.



Entretanto, não sofremos apenas por sermos mulheres. Ah, não! Somos um pouco mais do que isso. Somos mulheres que quebram a norma ao não desejarmos nos submeter sexualmente aos homens, pagando o alto preço da homofobia contra nossa lesbiandade. E nisso os deuses infernais não nos permite descansar, lançando sobre nós o fogo e enxofre de uma dupla perseguição que nos açoita e machuca-nos todos os dias: o machismo e a homofobia.



E quantas de nós não conseguem ir para frente em suas vidas, tendo até mesmo o fim delas pelos homicídios de ódio e os estupros para que aprendamos o bom gosto de um macho? Quantas de nós, frágeis socialmente, não conseguem romper as grades da cadeia que os carcereiros nos torturam com prazer? A quantas de nós é dada apenas a submissão como possibilidade, impedindo-nos de sentir o carinho verdadeiro de uma possibilidade de amor? Quantas de nós?



Até mesmo dentro do movimento pelos direitos da diversidade sexual, ficamos na escuridão dos cantos, não tendo força entre os rapazes e não tendo possibilidades de melhorar nossas vidas até mesmo nesse meio. Carregamos o fardo de amplos senhores que não cessam com seus acoites e chicotes. O machismo e a homofobia se materializam todos os dias em frente a nossa cadeia.



E com olhos assustados e na sensação de solidão nos colocamos. Nossas vozes parecem mudas por acreditarmos que ninguém percebe nenhum som. “Há apenas o mal”: pode alguma de nós pensar. Mas, se olharmos em volta, poderemos perceber que há outros olhos medrosos e sofridos de toda essa situação. Há outras mulheres a sua volta desejando o mesmo que você e eu. E juntas já somos três: uma trindade de mãos dadas e de mesmas histórias de preconceito. Só que não há apenas três; há outras tantas em nosso redor; com medo; tremendo talvez, mas com esperança.



Pela esperança podemos fazer-nos gigantes pela voz de multidão que podemos criar. As mulheres queimaram sutiãs contra o machismo e hoje precisamos ser mais profundas. Precisamos atear fogo em calcinhas contra a homofobia, lançando aos céus contra os homens e os deuses nossa força e fé. É uma meta de esperança. É uma meta de possibilidades.



Olhe em volta. Você não está só nessa vontade.



GRUPO DE ENCONTROS DAS LÉSBICAS DE JUIZ DE FORA

MOVIMENTO GAY DE MINAS - MGM

Fabiane Clara Portela

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